Capítulo 13
— Meus pais foram mortos em um conflito com escravos, sim — Joseph confirmou, enquanto caminhava pela fazenda com Demetria. Ele resolveu mostrar o espaço ao ar livre da propriedade enquanto respondia a pergunta dela. — Mas deturparam a história do assassinato. Não foram os escravos.
— Como não?
— Meus pais estavam acobertando a fuga dos escravos nas redondezas da fazenda de Alonso, pois eram abolicionistas.
— Alonso? — ela perguntou interessada, avistando os casebres que entrara na noite da invasão. — Victor o mencionou, não foi?
— Sim. Alonso era um fazendeiro tradicionalista e bárbaro. Uma versão pior do Barão.
— Estás brincando?! Não tem como!
— Pois tem, acredite — ele respondeu, dando uma risada de desgosto. Apoiou o pé em uma pedra, parando embaixo de uma árvore. A morena esperou a continuação, curiosa. — Ele e mais dois fazendeiros, inclusive o pai de Victor, sabiam que meus pais eram contra várias atitudes dos fazendeiros de Aruaz.
— Alguém sabe que tu és?
— Nicholas, somente. Victor suspeita, mas não consegue provar. Sem contar que ele é desacreditado pelos demais.
— Continue, por favor.
— Nesse dia do conflito, Alonso não perdeu a chance quando viu meus pais. Açoitou meu pai e o matou e incendiou minha mãe viva, colocando a culpa nos escravos.
Demetria arregalou os olhos horrorizada. Focalizou Joseph que fitava algum ponto da fazenda e não conseguiu dizer nada nos primeiros segundos. Estava mesmo espantada.
— Meu Deus, isso é terrível! Eu... sinto muito pelos seus pais. Esse bárbaro continua vivo?
— Sim, mas totalmente miserável e sozinho — Joseph respondeu com um olhar vago. — O Cavaleiro da Escuridão é responsável pela miséria. Mas a solidão, isso o maldito conquistou sozinho e sem dificuldade.
Demetria estremeceu ao ouvir Joseph mencionar o cavaleiro. Deus! Como sentia saudade dele! E ao ouvir mais um feito digno dele, tinha certeza que era quase um herói. Pena que havia dispensado a heroína que Demetria queria muito ser. Suspirou, perdida em pensamentos, enquanto Joseph estava na mesma condição.
Ele pigarreou.
— O almoço deve estar sendo servido, tu vens?
Ela assentiu e eles voltaram para a casa grande, calados. Cada um absorto em pensamentos.
Joseph e Demetria almoçaram calados. Ele parecia em outro mundo, concentrado. E de fato, estava. A morena não fazia questão de conversar, pôs-se a analisar como era estranho não almoçar com sua família. Acostumada a ver a mesa cheia, estranhou a de Joseph tão vazia. Imaginou como ele devia ser solitário. Não havia mais ninguém naquela casa além dos empregados!
Talvez ninguém o suportasse. Ela não conhecia Joseph.
— Com licença, senhora, gostaria de levar algum vestido em especial? — Claire perguntou, enquanto Demetria se levantava.
— Perdão?
— Ah, esqueci-me de dizer — Joseph finalmente despertou. — Claire está arrumando nossas malas, pois amanhã viajaremos. Não poderíamos ficar sem uma viagem de lua de mel, certo?
— Sem me consultar?
— Sei que tu irás adorar, meu bem. Tenho que ir até a cidade agora — Ele disse enquanto pegava o paletó no cabideiro e vestia. Antes que Demetria indagasse novamente, roubou um beijo dela, antes de sair. Era estranho ser beijada por Joseph tão normalmente.
— Tu sabes aonde iremos, Claire?
— Não, senhora — respondeu, sentindo-se intimidada pelo olhar de Demi. — Creio que o senhor Jonas queira fazer uma surpresa.
— Provável — resmungou, nada contente.
Pouco depois do amanhecer, Joseph e Demetria esperavam o trem. A morena ainda não havia conseguido descobrir o destino e isso a deixava insatisfeita. Acomodaram-se no veículo, lado a lado, no vagão mais caro.
— Tens medo do terceiro vagão? Ou das pessoas que ocupam? — ela perguntou, referindo-se ao vagão mais barato.
— Nenhum dos dois. Mas imaginei que talvez tu não gostasses, meu bem.
— Tenho mais nojo deste — a morena respondeu, fitando com desprezo o casal ao lado de mãos dadas, onde o homem olhava pervertido e descarado para o decote de duas jovens à sua frente. Joseph seguiu o olhar da esposa e entendeu. Um casal sentou no banco à frente deles, interrompendo o diálogo. Demi se pôs a observar a paisagem que corria aos seus olhos por causa da velocidade do trem. Pegou no sono minutos depois.
— O senhor gostaria de mais alguma coisa? — ouviu a voz do homem e logo de outro. Abriu com dificuldade os olhos e viu o terno do senhor barrigudo, que estava no banco à sua frente. Percebeu que estava aninhada a Joseph quando sentiu um cafuné na sua cabeça e o cheiro bom que ele exalava. Seu perfume natural.
Quis se levantar no exato momento, mas seu corpo não permitiu. Fingiu não ter acordado, aninhando-se ainda mais.
Acordou quando ouviu a movimentação das pessoas ao sair do trem. Se recompôs, sem nem olhar para Joseph. Este que levantou e a esperou passar.
— Uau! — Demi soltou maravilhada ao descer do trem. Podia ver a igreja de Melina dali. — Está mais bonita do que a última vez.
O marido sorriu, contente por tê-la agradado.
— Já vieste aqui?
— Sim, estudei anos com as freiras — respondeu, afastando-se da rodoviária. Joseph localizou o cochê que os levaria até onde ficariam hospedados e foram em sua direção.
— Meus pais gostavam bastante de Melina. Creio que um sonho era ver Aruaz como essa cidade, pois já seria um começo... — ele comentou e Demetria sabia o porquê. Em Melina não havia mais escravos, nem casamento forçado e repressões. As pessoas eram um pouco mais livres para opinar e viviam em melhores condições. Não era o ideal, mas um bom avanço. Tinha muito o que melhorar.
Joseph ajudou Demetria a descer do coche, assim que pararam no jardim da bonita casa de pedras. Ela pensou que eles ficariam em algum hotel, mas o marido explicou que os poucos familiares que tinha queriam conhecê-la. A morena imaginou que eles fossem agradáveis e inteligentes, depois de ter ouvido ele contar sobre os pais.
— Sinto que tu gostarás bastante das minhas primas e tias — Joseph declarou com um sorriso debochado e Demi não teve tempo de responder quando focalizou os parentes mais a frente. Duas senhoras e duas jovens vestidas de jeito extravagante.
"Não julgues pela aparência, Demetria."
O seu subconsciente disse e ela concordou.
— Como não?
— Meus pais estavam acobertando a fuga dos escravos nas redondezas da fazenda de Alonso, pois eram abolicionistas.
— Alonso? — ela perguntou interessada, avistando os casebres que entrara na noite da invasão. — Victor o mencionou, não foi?
— Sim. Alonso era um fazendeiro tradicionalista e bárbaro. Uma versão pior do Barão.
— Estás brincando?! Não tem como!
— Pois tem, acredite — ele respondeu, dando uma risada de desgosto. Apoiou o pé em uma pedra, parando embaixo de uma árvore. A morena esperou a continuação, curiosa. — Ele e mais dois fazendeiros, inclusive o pai de Victor, sabiam que meus pais eram contra várias atitudes dos fazendeiros de Aruaz.
— Alguém sabe que tu és?
— Nicholas, somente. Victor suspeita, mas não consegue provar. Sem contar que ele é desacreditado pelos demais.
— Continue, por favor.
— Nesse dia do conflito, Alonso não perdeu a chance quando viu meus pais. Açoitou meu pai e o matou e incendiou minha mãe viva, colocando a culpa nos escravos.
Demetria arregalou os olhos horrorizada. Focalizou Joseph que fitava algum ponto da fazenda e não conseguiu dizer nada nos primeiros segundos. Estava mesmo espantada.
— Meu Deus, isso é terrível! Eu... sinto muito pelos seus pais. Esse bárbaro continua vivo?
— Sim, mas totalmente miserável e sozinho — Joseph respondeu com um olhar vago. — O Cavaleiro da Escuridão é responsável pela miséria. Mas a solidão, isso o maldito conquistou sozinho e sem dificuldade.
Demetria estremeceu ao ouvir Joseph mencionar o cavaleiro. Deus! Como sentia saudade dele! E ao ouvir mais um feito digno dele, tinha certeza que era quase um herói. Pena que havia dispensado a heroína que Demetria queria muito ser. Suspirou, perdida em pensamentos, enquanto Joseph estava na mesma condição.
Ele pigarreou.
— O almoço deve estar sendo servido, tu vens?
Ela assentiu e eles voltaram para a casa grande, calados. Cada um absorto em pensamentos.
Joseph e Demetria almoçaram calados. Ele parecia em outro mundo, concentrado. E de fato, estava. A morena não fazia questão de conversar, pôs-se a analisar como era estranho não almoçar com sua família. Acostumada a ver a mesa cheia, estranhou a de Joseph tão vazia. Imaginou como ele devia ser solitário. Não havia mais ninguém naquela casa além dos empregados!
Talvez ninguém o suportasse. Ela não conhecia Joseph.
— Com licença, senhora, gostaria de levar algum vestido em especial? — Claire perguntou, enquanto Demetria se levantava.
— Perdão?
— Ah, esqueci-me de dizer — Joseph finalmente despertou. — Claire está arrumando nossas malas, pois amanhã viajaremos. Não poderíamos ficar sem uma viagem de lua de mel, certo?
— Sem me consultar?
— Sei que tu irás adorar, meu bem. Tenho que ir até a cidade agora — Ele disse enquanto pegava o paletó no cabideiro e vestia. Antes que Demetria indagasse novamente, roubou um beijo dela, antes de sair. Era estranho ser beijada por Joseph tão normalmente.
— Tu sabes aonde iremos, Claire?
— Não, senhora — respondeu, sentindo-se intimidada pelo olhar de Demi. — Creio que o senhor Jonas queira fazer uma surpresa.
— Provável — resmungou, nada contente.
Pouco depois do amanhecer, Joseph e Demetria esperavam o trem. A morena ainda não havia conseguido descobrir o destino e isso a deixava insatisfeita. Acomodaram-se no veículo, lado a lado, no vagão mais caro.
— Tens medo do terceiro vagão? Ou das pessoas que ocupam? — ela perguntou, referindo-se ao vagão mais barato.
— Nenhum dos dois. Mas imaginei que talvez tu não gostasses, meu bem.
— Tenho mais nojo deste — a morena respondeu, fitando com desprezo o casal ao lado de mãos dadas, onde o homem olhava pervertido e descarado para o decote de duas jovens à sua frente. Joseph seguiu o olhar da esposa e entendeu. Um casal sentou no banco à frente deles, interrompendo o diálogo. Demi se pôs a observar a paisagem que corria aos seus olhos por causa da velocidade do trem. Pegou no sono minutos depois.
— O senhor gostaria de mais alguma coisa? — ouviu a voz do homem e logo de outro. Abriu com dificuldade os olhos e viu o terno do senhor barrigudo, que estava no banco à sua frente. Percebeu que estava aninhada a Joseph quando sentiu um cafuné na sua cabeça e o cheiro bom que ele exalava. Seu perfume natural.
Quis se levantar no exato momento, mas seu corpo não permitiu. Fingiu não ter acordado, aninhando-se ainda mais.
Acordou quando ouviu a movimentação das pessoas ao sair do trem. Se recompôs, sem nem olhar para Joseph. Este que levantou e a esperou passar.
— Uau! — Demi soltou maravilhada ao descer do trem. Podia ver a igreja de Melina dali. — Está mais bonita do que a última vez.
O marido sorriu, contente por tê-la agradado.
— Já vieste aqui?
— Sim, estudei anos com as freiras — respondeu, afastando-se da rodoviária. Joseph localizou o cochê que os levaria até onde ficariam hospedados e foram em sua direção.
— Meus pais gostavam bastante de Melina. Creio que um sonho era ver Aruaz como essa cidade, pois já seria um começo... — ele comentou e Demetria sabia o porquê. Em Melina não havia mais escravos, nem casamento forçado e repressões. As pessoas eram um pouco mais livres para opinar e viviam em melhores condições. Não era o ideal, mas um bom avanço. Tinha muito o que melhorar.
Joseph ajudou Demetria a descer do coche, assim que pararam no jardim da bonita casa de pedras. Ela pensou que eles ficariam em algum hotel, mas o marido explicou que os poucos familiares que tinha queriam conhecê-la. A morena imaginou que eles fossem agradáveis e inteligentes, depois de ter ouvido ele contar sobre os pais.
— Sinto que tu gostarás bastante das minhas primas e tias — Joseph declarou com um sorriso debochado e Demi não teve tempo de responder quando focalizou os parentes mais a frente. Duas senhoras e duas jovens vestidas de jeito extravagante.
"Não julgues pela aparência, Demetria."
O seu subconsciente disse e ela concordou.
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