Capítulo 6


A família Lovato aplaudiu felicíssima e orgulhosa. Joseph piscou para Demetria que quis voar no pescoço dele.
— Sorria, sorria — Rose murmurou, esperando que a irmã fizesse uma leitura labial. A morena abriu um sorriso forçado quando voltou a ser o centro das atenções.
— Diga-nos, senhorita Lovato, como está se sentindo?
— Irada — ela respondeu entre dentes, sem perceber, enquanto fitava Jonas.
— Como?!
— Honrada! Isso, honrada — a morena consertou, e foi aplaudida mais uma vez. O apresentador a levou até uma sala para que fosse arrumada para a dança e ela jurou matar Joseph depois disso.

— Eu não acredito — Demetria choramingou, enquanto duas mulheres a arrumavam. Olhou para o seu busto apertado no vestido e choramingou mais uma vez.
— Deve ser mesmo inacreditável, um sonho, senhora! — uma das mulheres exclamou admirada, enquanto penteava os cabelos de Demetria com todo cuidado.
— Está parecendo mais um pesadelo...
— Oh, como podes dizer isso, senhora? — a outra repreendeu, colocando o sapato em seus pés. — O senhor que a presenteou não deve nem sonhar que falaste isso!
— Eu mesma o direi — a morena respondeu e riu da expressão espantada das duas. Parecia que tinha confessado um crime. — Por que tanto espanto, ora essa?
— Deves respeito ao vosso futuro marido!
Demi riu, levantando-se.
— Sim, devo respeito, mas também devo ser respeitada. Tenho o direito de não gostar do que o meu senhor faz. Respeito não significa concordar com o outro sempre, ignorando o que você pensa. E ele não será meu marido, pois não o amo.
— E as senhoritas podem escolher?!
— Não, mas enfrentarei meu pai e farei o impossível para não me casar obrigada.
— Oh, a senhora fala tão bonito, tão determinada — a mulher elogiou admirada e Demi sorriu. O apresentador anunciou que a bela deveria voltar ao palco devidamente arrumada, como a tradição.
— Leiam a coluna de Afonso Riba no jornal — a morena sussurrou para as duas, que assentiram prontamente. Afonso Riba era o nome falso que Demetria assinava em seus textos para o jornal, com a ajuda do senhor Killer.
— Aruaz, realmente, é uma cidade próspera e honrada por ter uma bela como essa! Aplausos para a senhorita Lovato!
Demi subiu ao palco mais uma vez, prendendo o olhar de todos. O vestido desse ano parecia ter sido feito especialmente para ela. A cor era a mesma, vermelho sangue, mas o modelo diferente. O saiote era estampado com algumas rosas vinho, que ficavam quade camufladas no vermelho sangue. Era tomara que caia e deixava seu busto apertado. Seus cabelos negros estavam presos para o lado esquerdo, caindo em seu ombro, e as jóias a davam um ar esplêndido.
As senhoras presentes ficaram rapidamente enciumadas, ao notarem o efeito que a bela estava causando nos homens.
O look ousado combinava com sua personalidade.
Os senhores estavam encantados e muitos se perguntando como não tinham reparado a morena antes.
O apresentador deu início a tradicional dança.
— Tentando fugir, senhorita Lovato? —Joseph perguntou ao pé da escada, frustrando a mulher. Ela segurou a saia do vestido para terminar de descer as escadas e Joseph a observou. Deslumbrante? Magnífica? Maravilhosa? Ele não conseguia defini-la em uma só palavra, precisava de várias para realmente representar Demetria.
A vontade da mulher era arrancar seus sapatos e tacar em Joseph, que já a esperava com a mão à sua frente, mas seus pais a matariam.
— Eu já disse que o senhor é perceptivo? — ela perguntou, fingindo uma falsa simpatia e pondo a mão sobre a dele. Joseph a guiou até o centro do salão com um sorriso vitorioso no rosto. Sorriso este que estava irritando profundamente Demetria.
— Sim, por isso me apressei para que não pudesse fugir.
Eles se afastaram para dar início a dança, assim como os outros casais, e ela pôde fulmina-lo com o olhar.
Quando as primeiras notas do piano foram ouvidas, eles deram um passo à frente, aproximando-se novamente.
— Então presumo que tenha percebido como estou me sentindo.
Quando era impossível dar mais um passo em direção ao outro, eles ficaram apenas a quatro dedos de distância. Encararam-se e Joseph desceu as mãos pelos braços finos e macios dela, segurando suas mãos.
— Tudo que eu consigo perceber, no momento, é que tu és de longe a mulher mais deslumbrante que meus olhos já contemplaram — ele confessou e levou os lábios às costas das mãos dela. Voltou a encara-la do mesmo jeito que haviam feito quando estavam sentados à mesa. Demi ficou surpresa com o elogio e incomodada novamente com aquele olhar.
— E o senhor um mentiroso que não conseguirá nada além do meu desprezo — ela respondeu azeda, e ficou aliviada quando começaram a dançar juntos, finalmente livre daquele olhar que a perturbava.
— Achas que estou mentindo? — ele perguntou próximo ao ouvido dela, enquanto descia, propositalmente, a mão esquerda pelas costas nuas da mulher. Ela prendeu a respiração por um instante, levando um susto. Nunca havia sentido o toque de um homem em sua pele. A mão quente dele acariciava de um jeito terno, fazendo o corpo dela aprovar. Mas Demi se lembrou do dono das mãos e a repulsa que sentia dele.
— Tire essa mão atrevida e nojenta de mim agora!
— Perdoe-me — ele se desculpou, parando a mão. Demi ignorou o protesto de seu corpo que pedia pelas carícias novamente. Ele deixou a boca novamente na altura da orelha da morena. — É muito difícil me controlar quando estou perto de ti.
Demi rolou os olhos com a tentativa de sedução e resolveu tirar proveito disto.
— Eu também faço o impossível para me controlar quando estamos juntos — ela respondeu no ouvido dele, fazendo Joseph sentir seu hálito quente na nuca. O homem teve vontade de beijá-la até ficar sem ar. — Já perdi a conta de quantas vezes quase pulei em seu pescoço para te estrangular ou quase chutei suas partes baixas. Acredite, é difícil.
Apesar de receber esse balde de água fria, Joseph riu. Eles se separaram e elevaram as mãos, rodando calmamente. A morena ficou surpresa por ainda lembrar o passo que dançou somente três vezes, há nove anos atrás. E então ela focalizou Joseph. Seu sorriso não era vitorioso dessa vez, ou provocador que a deixava com raiva. Era... diferente.
— Oh, meu bem, essa sua agressividade me deixa mais louco ainda — ele colou os lábios no ouvido dela, e a puxou possessivamente pela cintura. Demi ficou surpresa quando bateu seu tronco no dele, enquanto Joseph a envolvia pela cintura. Continuaram a dar passos lentos completamente colados.
Essa proximidade dos seus corpos fez a mulher lembrar do beijo no Cavaleiro. Aquilo foi o mais próximo que chegara de um homem, como hoje. — Diga-me, esta é a sua primeira dança em um baile?
— A mais terrível e insuportável.
— Oh, é uma pena, pois é a sua última — ele respondeu, deixando-a intrigada. Joseph roçou os lábios pela bochecha dela. —Mulheres casadas não são mais tiradas para dançar.
Foi a vez dela de rir, mas debochadamente. A raiva voltou à tona por Joseph ter tocado nesse assunto e por ser tão petulante, a ponto de determinar sua última dança.
Ela pisou de propósito no pé dele, brava. Enfurecida por Joseph não ligar e a descolar de seu corpo, fez novamente.
— Estás nervosa, meu bem?
— Tu és tão tolo a ponto de gastar dinheiro à toa? Só para ter esta dança terrível com alguém que não te suporta?
— Esse foi o dinheiro mais bem gasto da minha vida, amor - ele sussurrou no ouvido dela, e depositou um beijo demorado em seu pescoço. Demi sentiu um arrepio correr por todo seu corpo, provocando uma sensação nova. Desvencilhou-se dele, e andou apressada até a mesa de seus pais.
Estava perturbada. Era para ter deixado Joseph sozinho na pista há muito tempo, mas ficara lá suportando as provocações como se estivesse... gostando.
Jamais!
Ela repetiu em sua mente várias vezes. Não sabia o que tinha a impedido de dar um basta na dança, mas tinha certeza que por Joseph só sentia desprezo.
O homem suspirou, assim que foi abandonado pela morena. Retirou-se dali, também voltando à sua mesa.
Hoje havia conseguido a atenção de Demetria e não desistiria.

   


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