Capítulo 17

  -  Meu pai! - Selena exclamou com os olhos arregalados. Acabara de ouvir Demi contar o que havia acontecido do seu casamento até o momento. - E eu pensei que tu não podias ser mais ousada...
Demi suspirou e se levantou, incomodada. Estava confusa e perdida.
  - Não sei o que faço. Estou apaixonada pelo Cavaleiro, e por mais que não sinta nada por Joseph, essa aliança pesa mais que o mundo em meu dedo.
  - Conheço esse sentimento - Zira comentou, aproximando-se da morena e pegando em sua mão. - Se queres meu conselho, afasta-te do Cavaleiro. Tu destes sorte por Joseph ser um bom homem e partilhar das mesmas idéias, pelo que me contaste.
  - Mas não é ele que eu amo!
  - Ele é teu marido e está apaixonado por ti. Por que não deixas teu orgulho de lado e dá uma oportunidade ao homem?
  - Porque não tenho vontade! Ele não me instiga ou desperta algo como o Cavaleiro - respondeu angustiada, sentando-se ao lado de Selena novamente. Esta que observava tudo quieta. - Ao lado do Cavaleiro eu posso ser e fazer o que eu sempre quis. Ao lado de Joseph eu sou como um passarinho preso; o que sempre abominei.
  - Como sabes se nem deste chance a uma vida com Joseph? Mas ao Cavaleiro tu deste e ele se recusou a trair o aliado. E de que adiantou? Nada! Ambos estão traindo o homem!
  - Chega, Zira! Sabes que é injusto eu me sentir culpada por trair Joseph se nem queria que o casamento ocorresse - reclamou perturbada. - Por que estás a defender Joseph tão veemente?
A mais velha suspirou, também se sentando ao lado da morena.
  - Perdão por ter me exaltado, querida. Preocupo-me demais com vossas vidas - disse, olhando as duas jovens e bebericando seu chá. - Temo o futuro... Imagine o que não pode acontecer.
  - Perdoe-me também... Juro que refletirei.
Elas terminaram o chá com um assunto qualquer e as duas abandonaram a casa de Zira juntas, como sempre.
Caminharam até a cidade e antes de seguirem para seus determinados coches, Demi comentou sobre o Cavaleiro novamente:
  - O próximo ataque será em poucos dias. E o lucro que vai obter com essa fazenda já tem destino... Ele é incrível.
  - Falas com admiração e orgulho dele - Selena comentou e resolveu se pronunciar sobre o assunto da casa de Zira. - Parece-me que isso conta bastante para você, não é mesmo?
  - Sim, com certeza.
  - Pois então deverias prestar atenção nos feitos do seu marido também. Não são invasões, porém atos nobres também.
Despediu-se com um abraço, falando que veria a amiga na quinta. Demi estava ainda acordando do "tapa" que havia levado da amiga, e nem perguntou aonde se veriam quinta.
Selena e Zira defendendo Joseph a incomodava. E não era pouco.

Três semanas se passaram. Demi e Joseph estavam mais afastados do que nunca. A mulher teve a impressão de que o marido estava a evitando nos últimos dias, e temeu que ele soubesse que ela estava encontrando com o Cavaleiro algumas noites. E que noites!
Mordeu o lábio só de lembrar. Não conseguia sentir arrependimento. Tratou de voltar a ler seu livro quando Joseph interrompeu seus pensamentos, entrando no quarto. Silencioso, foi até seu armário. Demetria se sentia incomodada com a frieza de Joseph. Jamais pensou que fosse admitir, mas preferia quando ele tentava seduzi-la ou provocava, falando alguma besteira. Agora era tratada como um móvel. Suspirou, encarando o homem de costas que mexia no armário. Sentiu-se mal por estar fazendo Joseph sofrer. Afinal, ele a amava, não?
Ele tirou a camisa, pronto para vestir outra. Foi quando Demetria as viu: as unhadas vermelhas estavam tatuadas nas costas dele. A morena sentiu raiva por estar sentindo pena enquanto ele transava com outras. Fechou o livro, levantando-se e se aproximando.
  - Mais um pouco e ficaria em carne viva.
Ele deu de cara com a mulher de braços cruzados e não entendeu por alguns segundos. Ignorou o comentário, vestindo outra camisa. Essa atitude enfureceu Demetria. - Melhor tomar cuidado para não infeccionar, Zira já me contou que essas mulheres e os lugares onde são encontradas não são nada higiênicos.
Referiu-se às prostitutas, derramando veneno. Queria feri-lo, irrita-lo. Queria que ele manifestasse qualquer sentimento. Não tinha motivos ou moral para julgar Joseph, mas não estava pensando nisso. A raiva não deixava.
  -  Fique tranquila... "Ela" não é como essas.
Ele ainda abriu um sorrisinho para a parede, como se estivesse lembrando de quando dormiu com a mulher. E de fato estava. Achou cômico a esposa estar chamando a si mesma de prostituta e nem saber. As marcas em suas costas eram obra de Demetria. Esta que sentiu vontade de socá-lo.
  - Como tu és asqueroso, falso e--
  - Por que estás me julgando? - virou-se rapidamente e a interrompeu. Colocou o cabelo dela para trás, pegando em seu maxilar e levantando um pouco. - Esses roxos não foram batidas, eu tenho certeza.
Ela retirou as mãos dele, afastando-se. Joseph avançou novamente, e Demi não sabia o que dizer. Pegou-a pelo braço, irritado. - Por que não me respondes, Demetria?! Continue seu julgamento!
  - Tu estás me machucando. Solte-me!
  - Tu não reclamas quando ele está te machucando, não é? - respondeu entre dentes, possuído pela raiva. Estendeu o braço dela, mostrando as marcas. - Tem aqui, tem no outro, tem em todo lugar!
 Joseph correu os olhos rapidamente pelo corpo dela, ficando perturbado ao ver as marcas. Rasgou o vestido dela na parte do decote, observando os seios marcados. Demi arfou de susto, batendo na parede devido ao movimento. Olhou o homem assustada. A última vez que vira Joseph com tanto ódio fora na festa de casamento, batendo em Victor.
  - Pare com isso! Tu enlouqueceste?!
  - Eu quero ver todas as marcas! - disse, deixando a morena desesperada quando ele ameaçou arrancar seu vestido. Ela esperneou, estapeando o homem, pedindo para que parasse.
Joseph finalmente desistiu, afastando-se. Encarou a mulher que estava ofegante e vermelha. Arrependeu-se amargamente de tudo que havia dito ou feito. Principalmente quando focalizou a marca da sua mão no braço dela.
  - Seu estúpido - ela murmurou, trancando-se rapidamente no banheiro. Sentou no chão, controlando sua respiração. Quando ouviu a porta do quarto bater, chorou.


Joseph sentou na poltrona da casa de Nick, entornando de uma vez a bebida que o amigo oferecera.
  - Qual o problema, Joseph?
  - O cavaleiro. Eu. Estou ficando louco! - desabafou, fechando os olhos e bufando. - Eu briguei com Demi por causa dos beijos do Cavaleiro, sendo que eu sou ele! Odiei aquele homem com todas as minhas forças por estar encostando na mulher que eu amo... Mas ele sou eu! Estou louco.
  - Tu precisas acabar com isso. Além de estar enganando Demetria, está te prejudicando.
  - Como vou acabar?! - perguntou perturbado. - Pensei que conseguiria conquistar Demi sendo eu mesmo, mas ela ama o maldito Cavaleiro...
 Nick curvou as sobrancelhas, achando graça.
  - Mas tu és o Cavaleiro! Ela te ama, mas não sabe. Tu que estás fazendo de ti mesmo duas pessoas. Deverias contar a verdade...
  - Ela me odiaria... Não a teria como Joseph, e nem como Cavaleiro. Isso eu não posso suportar.

Joseph voltou para casa determinado a conversar com Demetria. Mas seu plano foi adiado por uma visita inesperada: a família Lovato estava em sua casa.
  - Meu querido genro! - o pai de Demi se levantou, cumprimentando Joseph. Este que trocou um olhar com a esposa. Era perceptível como ela estava incomodada. - Tu chegaste bem na hora que falávamos de ti.
  - Como estão? Perdão por não estar aqui para recebê-los, não sabia que viriam.
  - Queríamos fazer uma surpresa. Agimos mal?
  - Jamais, minha sogra. São bem-vindos a qualquer hora - ele respondeu, beijando a mão da mais velha, que sorriu satisfeita.
  - Não diga isso, senão eles não sairão mais daqui.
  - Demetria! - sua mãe a repreendeu ofendida. A morena só deu de ombros, estava falando a verdade. Quis vomitar quando sua família inteira começou a bajular Joseph. Até mesmo Rose. Mas não a culpava, sabia que havia sido instruída pelos pais.
Pouco depois foi incumbida de mostrar a casa para sua mãe e suas irmãs, enquanto seu pai foi com Joseph para o escritório.
  - E esse é o nosso quarto - disse, satisfeita por ser o último cômodo. Mas não deixou de notar como era estranho dizer o "nosso". Sentou-se na cama, enquanto elas apreciavam cada coisa.
  - Demetria não merece nada disso, é uma ingrata. Por que não eu, vida?! - Jessie reclamou invejosa.
  - Talvez se tu não falasses demais.
Lembrou quando a irmã a dedurou. Não havia a perdoado pelo que fizera. Se estava naquela situação, era por culpa dela. Jessie desviou o olhar, sentindo o ódio de Demetria pesar sobre si.
  - Oh, céus! Lisie, venha ver esta banheira! - a senhora Lovato chamou, atraindo as filhas. Exceto Rose, que sentou ao lado de Demetria.
  - Senti tua falta. Não me procurou depois do casamento como disse que faria.
  - Desculpe, Rose, não tive tempo.
  - E no entanto arranjou tempo para visitar Zira e Selena... - comentou magoada. Demi suspirou, sentindo-se mal. Abraçou a irmã que a correspondeu. - Sei que nos odeia, mas-
  - Só estou muito ressentida com eles, mas não devia ter deixado que isso nos afastasse. Tu me perdoas?
  - É claro - a loira respondeu e foi interrompida por suas irmãs. Não conseguiu mais falar com a irmã porque ninguém dava espaço. Queria conversar com Rose como antigamente, pois agora tinha noção do que fizera. Na hora da despedida, pediu que a irmã falasse com Selena no dia seguinte para que a amiga a levasse escondido no dia que viria a sua casa.
Aproveitou para se trocar, enquanto Joseph ainda falava com seu pai. Quando ele subiu, ela já estava deitada, coberta e à espera do sono.
  -    Precisamos conversar, Demetria.

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