Capítulo 9
Demi não esperou na estrada de terra dessa vez. Sabia onde encontrá-lo e resolveu ir até lá.
— Tu estás louca? Entrar nessa floresta escura? Espere o sol raiar — Rose falou amedrontada, enquanto abraçava os próprios braços. Demi não podia esperar, pois correria o risco dos seus pais acordarem e perderia sua última chance.
— Fique tranquila, sei o que estou fazendo. Tu não precisas me esperar aqui, fique no meu quarto, será melhor.
Rose acabou assentindo, ainda um pouco contrariada. Esperou que a irmã montasse em Florence e observou, achando esquisito vê-la naqueles trajes de homem.
A mulher foi levada floresta adentro por Florence.
O Cavaleiro estava na cabana, e assim que ouviu as galopadas, correu para colocar sua máscara. Espiou da janela e viu que era apenas a morena, ficando mais relaxado. Esperou que ela amarrasse a égua, encostado no batente. Observou Demetria nas vestes masculinas e, mesmo assim, conseguia achá-la atraente e formosa. Achou estar louco na primeira vez que percebeu isso, mas logo compreendeu que Demi era especial e única. A morena parou na sua frente e o encarou. O amor parecia emanar de ambos os corpos, deixando-os entorpecidos. Não enxergavam e nem ouviam mais nada, presos um ao outro. A noite antes fria, agora quente e aconchegante, parecia.
— Minha única e melhor visita — ele disse, fazendo-a dar um sorriso de lado e esquecer, por um momento, suas preocupações. Ela jamais pensou que pudesse se sentir assim. Quando percebeu, os lábios dele já estavam juntos dos seus. —Diga-me, o que te aflige?
Deu espaço para que ela entrasse, e Demetria o fez. Sua vista agradeceu pelas velhas espalhadas no cômodo, assim podia visualizar tudo.
— O casamento.
— Tristan está falido, isto não bastou?
— Ele não é mais um problema — a morena respondeu, encostando na mesa de madeira. — Meu pai deu minha mão a Joseph Jonas.
O Cavaleiro a encarou, preparando-se para revelar quem era. Mas Demetria o interrompeu, andando pela cabana.
— Eu detesto com todas as minhas forças aquele homem. Ele é insistente, inconveniente, parece que não percebe que eu o desprezo. Prefiria casar com Tristan a dividir o mesmo teto com ele.
O Cavaleiro fechou a boca, desistindo do que ia fazer. Estava sem reação ao ouvi-la falar com tanto ódio sobre ele. E se revelasse que com quem ela fez amor e trocou beijos foi o homem que ela mais detestava? Ela o odiaria para sempre e com razão. E isso Joseph não podia suportar. Pensou numa forma de consertar aquela situação, e sofreu, fechando os olhos.
— Ele fez algo a senhorita? — perguntou ainda de costas para ela, e Demetria só prestou atenção no "senhorita". Eles não tinham mais essa formalidade, por isso a morena percebeu que havia algo errado.
— Por que está se dirigindo a mim dessa forma?
— Estás noiva e em breve se casará. Devo tratá-la com respeito.
Ela piscou uma, duas, três vezes, tentando acordar daquele pesadelo. Seu peito doeu quando percebeu que tudo era real. E doeu mais ainda pela forma fria como o Cavaleiro estava a tratando. Reuniu com esforço palavras em sua mente.
— Pensei que fôssemos parceiros...
O homem praguejou mentalmente ao ouvir a voz entrecortante da amada. Virou-se de uma vez para ela, e se arrependeu no mesmo instante.
— Dessa vez não posso fazer nada.
— Por que? — ela perguntou confusa. — Tu não fizeste com o senhor Tristan?
— Não posso invadir a fazenda de Joseph Jonas e a senhorita irá entender o por quê em breve.
Ela o encarou incrédula. Entenderia em breve? Ela queria entender agora! Umedeceu os lábios, respirando. Aquilo não tinha sentido.
— Isso quer dizer que... desististe de mim?
— Fui forçado a isso, infelizmente.
— Forçado por quem? — ela perguntou, não querendo acreditar. — De quem tens medo?
— Não tenho medo de ninguém. As circunstâncias me levaram a essa escolha e a senhorita entenderá.
— Pare de me chamar assim! - ela falou brava e magoada. O Cavaleiro havia conseguido o que queria, ela estava decepcionada. A morena queria chorar, esbravejar, estapear o homem, em busca de uma resposta concreta e decente. Queria perguntar por que ele não arrumava outro jeito de ficarem juntos. Por que não fugia com ela? Mas se conteve, pois não se humilharia desse jeito. Ele era esperto, se quisesse fugir, fugiria. Se quisesse arrumar outro jeito, arrumaria. Mas ele não queria.
— Perdoe-me — ele pediu, sentindo-se um monstro. Sentia-se mal por fingir ser duas pessoas, por mentir para ela, por ser quem era. Demi o encarou magoada e saiu da cabana, sem olhar para trás.
Queria esquecer aquele homem, aquela cabana, aquele lugar. Tudo.
Montou na égua e seu olhar se encontrou pela última vez com o do Cavaleiro. Assim que ela sumiu pela floresta, ele socou o lugar, tomado pela raiva.
Xingou aborrecido e magoado. Como conseguiria dormir com a feição triste e decepcionada dela na sua mente? E o olhar que o repreendia?
— Maldito seja!
— Tu estás louca? Entrar nessa floresta escura? Espere o sol raiar — Rose falou amedrontada, enquanto abraçava os próprios braços. Demi não podia esperar, pois correria o risco dos seus pais acordarem e perderia sua última chance.
— Fique tranquila, sei o que estou fazendo. Tu não precisas me esperar aqui, fique no meu quarto, será melhor.
Rose acabou assentindo, ainda um pouco contrariada. Esperou que a irmã montasse em Florence e observou, achando esquisito vê-la naqueles trajes de homem.
A mulher foi levada floresta adentro por Florence.
O Cavaleiro estava na cabana, e assim que ouviu as galopadas, correu para colocar sua máscara. Espiou da janela e viu que era apenas a morena, ficando mais relaxado. Esperou que ela amarrasse a égua, encostado no batente. Observou Demetria nas vestes masculinas e, mesmo assim, conseguia achá-la atraente e formosa. Achou estar louco na primeira vez que percebeu isso, mas logo compreendeu que Demi era especial e única. A morena parou na sua frente e o encarou. O amor parecia emanar de ambos os corpos, deixando-os entorpecidos. Não enxergavam e nem ouviam mais nada, presos um ao outro. A noite antes fria, agora quente e aconchegante, parecia.
— Minha única e melhor visita — ele disse, fazendo-a dar um sorriso de lado e esquecer, por um momento, suas preocupações. Ela jamais pensou que pudesse se sentir assim. Quando percebeu, os lábios dele já estavam juntos dos seus. —Diga-me, o que te aflige?
Deu espaço para que ela entrasse, e Demetria o fez. Sua vista agradeceu pelas velhas espalhadas no cômodo, assim podia visualizar tudo.
— O casamento.
— Tristan está falido, isto não bastou?
— Ele não é mais um problema — a morena respondeu, encostando na mesa de madeira. — Meu pai deu minha mão a Joseph Jonas.
O Cavaleiro a encarou, preparando-se para revelar quem era. Mas Demetria o interrompeu, andando pela cabana.
— Eu detesto com todas as minhas forças aquele homem. Ele é insistente, inconveniente, parece que não percebe que eu o desprezo. Prefiria casar com Tristan a dividir o mesmo teto com ele.
O Cavaleiro fechou a boca, desistindo do que ia fazer. Estava sem reação ao ouvi-la falar com tanto ódio sobre ele. E se revelasse que com quem ela fez amor e trocou beijos foi o homem que ela mais detestava? Ela o odiaria para sempre e com razão. E isso Joseph não podia suportar. Pensou numa forma de consertar aquela situação, e sofreu, fechando os olhos.
— Ele fez algo a senhorita? — perguntou ainda de costas para ela, e Demetria só prestou atenção no "senhorita". Eles não tinham mais essa formalidade, por isso a morena percebeu que havia algo errado.
— Por que está se dirigindo a mim dessa forma?
— Estás noiva e em breve se casará. Devo tratá-la com respeito.
Ela piscou uma, duas, três vezes, tentando acordar daquele pesadelo. Seu peito doeu quando percebeu que tudo era real. E doeu mais ainda pela forma fria como o Cavaleiro estava a tratando. Reuniu com esforço palavras em sua mente.
— Pensei que fôssemos parceiros...
O homem praguejou mentalmente ao ouvir a voz entrecortante da amada. Virou-se de uma vez para ela, e se arrependeu no mesmo instante.
— Dessa vez não posso fazer nada.
— Por que? — ela perguntou confusa. — Tu não fizeste com o senhor Tristan?
— Não posso invadir a fazenda de Joseph Jonas e a senhorita irá entender o por quê em breve.
Ela o encarou incrédula. Entenderia em breve? Ela queria entender agora! Umedeceu os lábios, respirando. Aquilo não tinha sentido.
— Isso quer dizer que... desististe de mim?
— Fui forçado a isso, infelizmente.
— Forçado por quem? — ela perguntou, não querendo acreditar. — De quem tens medo?
— Não tenho medo de ninguém. As circunstâncias me levaram a essa escolha e a senhorita entenderá.
— Pare de me chamar assim! - ela falou brava e magoada. O Cavaleiro havia conseguido o que queria, ela estava decepcionada. A morena queria chorar, esbravejar, estapear o homem, em busca de uma resposta concreta e decente. Queria perguntar por que ele não arrumava outro jeito de ficarem juntos. Por que não fugia com ela? Mas se conteve, pois não se humilharia desse jeito. Ele era esperto, se quisesse fugir, fugiria. Se quisesse arrumar outro jeito, arrumaria. Mas ele não queria.
— Perdoe-me — ele pediu, sentindo-se um monstro. Sentia-se mal por fingir ser duas pessoas, por mentir para ela, por ser quem era. Demi o encarou magoada e saiu da cabana, sem olhar para trás.
Queria esquecer aquele homem, aquela cabana, aquele lugar. Tudo.
Montou na égua e seu olhar se encontrou pela última vez com o do Cavaleiro. Assim que ela sumiu pela floresta, ele socou o lugar, tomado pela raiva.
Xingou aborrecido e magoado. Como conseguiria dormir com a feição triste e decepcionada dela na sua mente? E o olhar que o repreendia?
— Maldito seja!
Demi sentou em sua cama, absorta em pensamentos. Não ouviu o que Rose dizia e muito menos o que perguntava. Estava em casa, mas com a mente e o coração na cabana. Remoía as palavras do Cavaleiro a cada minuto, sentindo a dor em seu peito. E como doía!
Da mesma forma que amou intensamente, agora sentia a dor agredi-la do mesmo jeito. Rose se preocupou com a irmã, e levou um susto quando a mãe entrou no quarto. Demetria finalmente despertou.
— O que houve? — Diana perguntou, percebendo que a filha não aparentava estar bem.
— Demetria só está pensativa e apreensiva, mamãe.
A mais velha continou a observar a morena por alguns segundos, e seu coração apertou. Não conseguia ter ódio da filha e se sentia mal ao vê-la sofrendo. Mas não tinha voz naquela casa, tudo que falasse seria em vão. O que seu marido decidia, estava decidido. Lisie chegou na porta, despertando a mãe.
— Bom... amanhã vamos cedo à cidade para a prova do vestido e organização do casamento. Não se atrasem, pois temos muito a fazer.
Ela se retirou e Rose aproveitou para tentar arrancar algo de Demetria, mais uma vez.
— Rose, me deixe sozinha, por favor — a morena pediu, cansada. — Prometo que conto tudo amanhã.
A loira suspirou e fez o que a irmã pediu. Demi ficou sozinha, então. Trancou a porta do quarto e se aproximou de sua escrivaninha, abrindo a gaveta. Pegou o único papel que sobrara do Cavaleiro. Leu novamente as palavras de amor e se assustou como cada uma parecia perfurar sua pele. Picotou com as mãos e deitou na cama. Arrasada e chorando, adormeceu.
Demi havia ido dormir destruída, mas acordou recomposta. Estava magoada ainda, mas não aceitava ficar arrasada numa cama. Ainda não estava casada e se ela não fizesse algo, ninguém faria. A esperança a fez se levantar, se arrumar, pensar no que fazer e aguentar a família falando sobre o casamento.
Às vezes, voava pensando no Cavaleiro. Ainda não entendia por que ele havia desistido. O homem disse que a amava, a possuiu e agora desistia? Ela não queria acreditar que ele era tão canalha assim.
Quando estava com ele, tudo parecia verdadeiro. As palavras, os toques, os olhares... A morena sentia isso.
— Vire-se, senhora — o alfaiate pediu, e Demi obedeceu. Seus braços estavam abertos e ela esperava impaciente, o homem acertar o vestido. — Pronto, está perfeito.
Ela finalmente pôde abaixar os braços e se virou para o espelho. Ficou surpresa ao ver seu reflexo. O vestido era mesmo perfeito e ela nunca se imaginou tão bonita em um vestido de noiva. Tinha deixado sua mãe escolher, pois pouco se importava com o casamento. Agora dava até pena de tirá-lo do corpo.
— Ficou maravilhoso, senhor Duarte.
— Obrigada, senhora Lovato. Sua filha que o iluminou. Tu aprovaste, senhorita?
— Sim, claro — Demi sorriu para ele. Havia mesmo admirado o trabalho, mas estava com pena porque o vestido não seria usado. Encontrava-se ansiosa para colocar seu plano em prática. Para isso, teria que fugir de sua mãe e essa tarefa era a mais difícil.
Elas foram até o salão que aconteceria a festa e Demetria quase chorou ao ouvir a mãe falar que escolheriam a comida, decoração, presentes, e muitas outras tarefas.
— Boa tarde, senhorita — um rapaz magricelo e engraçado cumprimentou Demi com uma pequena reverência, fazendo a morena arquear a sobrancelha. — O senhor Jonas me mandou aqui para realizar tudo o que a senhora deseja em vosso casamento.
— Argh! — ela revirou os olhos, puxando a mão. Joseph havia mandado até o garoto a reverenciar? Imaginou o que ele não fazia com os outros empregados. Seu desprezo só aumentava. Percebeu que o garoto à sua frente havia ficado constrangido. Talvez medo? Se ele desagradasse Joseph iria para o tronco? Demi arregalou os olhos ao pensar nisso. Não queria que o menino sofresse por culpa dela e por isso, fingiu interesse. — Perdão, ando nervosa. Gostaria de flores pelo salão, achas que consegue?
— Com certeza! — ele afirmou animado e sumiu.
Horas se passaram e quanto estavam prestes a terminar, Demetria colocou seu plano em prática.
— Podemos ir? — ela perguntou à mãe, piscando lentamente e pondo a mão sobre a testa.
— Temos que terminar aqui e passar na igreja.
— Não estou... me sentindo bem — ela disse com a voz falhando e fingindo estar tonta. Em seguida, jogou-se e o garoto magricelo a segurou com dificuldade. A mãe levantou preocupada, e as irmãs prestaram atenção.
— Oh, minha filha, sente aqui. Rápido, vá chamar um médico, rapaz!
— Só faltava fingir estar doente para não se casar...
Lisie duvidou da encenação e a mãe a repreendeu.
— Não é preciso chamar um médico, mamãe. Só estou... cansada.
— Acho melhor eu levá-la para casa enquanto terminam os preparativos — Rose opinou nervosa por estar sendo cúmplice da irmã. A mãe concordou, mas Lisie desconfiou.
— Eu posso levar Demetria. Estou cansada e Rose será mais útil aqui.
— Acho melhor eu levá-la para casa enquanto terminam os preparativos — Rose opinou nervosa por estar sendo cúmplice da irmã. A mãe concordou, mas Lisie desconfiou.
— Eu posso levar Demetria. Estou cansada e Rose será mais útil aqui.
Demi e Rose trocaram um olhar apreensivo. Lisie estava estragando tudo.
— Eu prefiro que Rose me leve — a morena disse, fingindo-se de fraca. Acabou convencendo a mãe e deixando a irmã irritada.
Lisie levou as duas irmãs até o coche, deixando-as tensas por estar atrapalhando. O condutor deu partida e assim que Lisie entrou, Demetria ordenou que ele parasse, levasse Rose e a esperasse em frente a igreja.
— Por favor, tome cuidado e volte para casa. Não esqueça tudo que estou fazendo por ti.
— Obrigada — Demi agradeceu e correu para o seu destino: casa do senhor Killer. Precisava de ferramentas para invadir a fazenda de Joseph Jonas. Era sua última esperança.
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