Capítulo 2

O sol já estava se pondo, dando lugar à lua. Na fazenda dos Lovato, o dia fora cheio. A sala de estar havia ficado movimentadíssima, o que deixou as filhas curiosas; especialmente Demetria.
— O que papai e esses homens conversavam? 
— Negócios que nos ajudarão — a mãe respondeu breve, enquanto verificava suas louças do jantar. A filha olhou novamente pela janela, vendo o pai se despedir dos senhores. Havia ficado intrigada.
— Ouvi comentarem em compras, animais, escravos... Ah, e vi papai pagando-os! — Ariela comentou fofoqueira, assim que chegou à sala.
— Papai anda com problemas financeiros depois de ter se envolvido em negócios clandestinos. Então, como conseguiu dinheiro? 
— Ora, Demetria! — Diana irritou-se. — Se tu não tens nada para fazer, vou à cidade passear contigo.
— O que era para estar fazendo com seu noivo, minha irmã. Quando pretendes desencalhar? Pois mamãe não viverá para sempre para passear contigo.
Demi olhou enfezada para Lisie, que apenas riu. Antes que sua mãe resolvesse encher novamente sua cabeça com as mesmas reclamações, por a irmã ter tocado no assunto, retirou-se da sala.
Bateu a porta de seu quarto, e se encostou na mesma. Estava cansada daquilo. Sentou-se em sua escrivaninha, pegando seus livros. O mundo da leitura e da escrita eram seu refúgio.
Demi despertou em cima dos livros, e praguejou pela dor em seu pescoço. Havia cochilado. Trocou suas vestes, preparando-se para dormir. Foi quando percebeu algo na janela. 
— Uma rosa? — ela indagou confusa, pegando a rosa vermelha e o bilhete embaixo, no parapeito da janela.
"Será amanhã à noite, assim que todos se recolherem. Preciso que arranje a chave do celeiro que está destinado a negócios ilegais.
Não preciso da ajuda de uma nobre, mas já de uma mulher que cavalga e usa calças, parece interessante."
Foi instantâneo o seu sorriso. Olhou pela janela, mas não havia sinal do Cavaleiro. Estava ansiosa e animada. Releu o bilhete mais uma vez antes de guardar bem escondido. Dormiu aspirando a rosa, que excitava a mulher ainda mais ao pensar na aventura. 

Demi andou apressada e se escondeu para que ninguém a visse entrando na casa de Madame Zira. Não era por vergonha, mas precaução. Se descobrissem e começassem a comentar, seu pai a proibiria por Zira já ter sido uma cortesã e ter ideais contrários aos dele.

— Demorou, querida — Zira comentou fechando a porta, assim que Demetria passou afobada. — Como estás?

— Foi difícil dispersar minha mãe e minhas irmãs. Estou bem, obrigada.

Andaram até o jardim da mulher, onde Selena se encontrava nervosa. Ela contou toda a história do noivado arranjado por seu pai. 

— Senhor Lockwood?! Seu pai está louco? 

— Precisamos fazer algo, esse homem é um bruto, nojento! — Zira disse angustiada. Já havia passado pelas mãos inescrupulosas do homem, e não queria que Selena tão mais nova, vivesse o mesmo. 

— Pensarei em algo. Fique tranquila, Selena, você não se casará — Demi disse e a amiga agradeceu com um abraço. A morena era determinada e corajosa, cumpria sempre com sua palavra.

Selena também contou sobre o rapaz que havia conhecido e conversado bastante nos últimos dias. Já estava apaixonada, era perceptível.

— Conte-nos, bela, por que essa animação? — Zira perguntou, notando a ansiedade de Demétria. A morena preferiu não revelar nada no momento.

— Contarei em breve. 

As duas amigas logo se despediram da mais velha, pois não podiam demorar. Já chegando ao comércio, encontraram com Joseph e Nicholas. Os homens cumprimentaram as duas, mas somente Selena retribuiu. 

— Selena, que bom vê-la! Estás bem? — Nicholas perguntou preocupado e aliviado por a amada ter armado esse "encontro". Há dois dias ela não aparecia no esconderijo onde se encontravam. 

— Estou bem, Nicholas. Podemos conversar? — perguntou aflita e ele assentiu prontamente. — Demi, se importa? 

— Não, tudo bem, vá.

Ele ofereceu o braço a ela, já que estavam um pouco afastados do comércio e ninguém veria. Ela aceitou e se distanciaram. 

Demi evitou olhar para Joseph e voltou ao seu trajeto. 

— Senhorita Lovato? Não quer companhia? — perguntou, a seguindo. A morena o ignorou, revirando os olhos, e continuou a andar. — Ora essa, ainda invocada com aquele beijo? 

Joseph tentou mais uma vez, sem sucesso, o que o enfezou. Em apenas alguns passos largos já havia a ultrapassado e se pôs na frente da mulher, provocando um esbarrão.

Ela se desequilibrou com a colisão e quase foi ao chão, mas Joseph a segurou pelos antebraços, impedindo.

— Argh! Seu estúpido! Deixe-me em paz! — esbravejou, soltando-se. 

— Acalme-se, senhorita. Quero apenas me desculpar pelo que fiz no baile, já que isso a incomodou tanto.

— A palavra certa seria enojada.

— Certeza? — perguntou com um sorriso maroto brincando nos lábios. — Pois eu faria de novo e sei que tu gostarias.

— Saia da minha frente agora!

— Oh, meu bem, cadê a sua educação? — Joseph indagou, fingindo-se de magoado, enquanto sua mão direita acariciava o rosto dela. Demetria deu um tapa raivosa. — Aposto que não foi assim que teus pais lhe ensinaram.

— O senhor está certo. Ensinaram-me a ser uma boba, mas adivinha? Eu não aprendi! Portanto, desista de me atazanar, pois comigo tu não conseguirás nada. 

Empurrou o homem do jeito que conseguiu e andou apressadamente até o comércio, temendo que ele a parasse mais uma vez. Mas Joseph a deixou ir, apenas observando a donzela se afastar.

— Estás errada, meu bem.

Já longe, Demetria suspirou aliviada por ele não tê-la seguido. Procurou sua mãe e suas irmãs, enquanto tentava achar uma resposta para Joseph estar a chateando. Descartou sua beleza; não acreditava que um homem que tinha umas das mais belas mulheres da cidade em suas mãos, estaria atraído por ela. Também descartou a possibilidade de interesse financeiro. Já era rico, não precisava dos patrimonios dos Lovato. Só podia ser alguma brincadeira de mau gosto, concluiu.

— Aonde você estava? Zira? — Rose perguntou despertando a irmã, que apenas assentiu. — Não sabia que você ia com o senhor Jonas agora...

— Oh, não, você entendeu errado. Eu encontrei esse ser repugnante no caminho.

— Curioso...

Demi revirou os olhos, dando o braço a irmã. Caminharam juntas até o coche, e a morena sentiu a impressão de estar sendo observada. Olhou para trás e de fato estava, quando o olhar de Joseph se encontrou com o seu.

Demetria estava inquieta e ansiosa. Todos já haviam se recolhido, e ela pego a chave que acabaria com os planos de seu pai. Olhava repetidas vezes pela janela e nenhum sinal. Resolveu esperar o Cavaleiro perto dos estábulos, com todo cuidado possível. 

Verificou se o capataz e os empregados estavam por ali e, como imaginou, não estavam. 

— Digo sempre a papai que eles não cuidam de nós, só se divertem e ele não acredita.

Murmurou consigo mesma até chegar ao estábulo. 

— O que fazes aqui fora? — ela arfou assustada e virou-se para trás, encarando o Cavaleiro. Seu coração estava descompassado e ela não sabia se era devido ao susto, ou por causa dele. — É perigoso.

— Não tinha escrito no bilhete que era para eu permanecer em casa. 

— Mesmo que tivesse, não ficarias  — ele afirmou com toda convicção, enquanto prendia Escuridão. Demi arqueou a sobrancelha.

— Falas como se me conhecesse... 

— Talvez a conheça — respondeu fitando a mulher, que apenas conseguia ver o brilho dos olhos deles, sem distinguir a cor por causa da máscara. — Esta é a chave? 

— Sim, aqui está — despertou, estendendo. Ficou confusa ao perceber que estava agindo tão bobamente na frente dele. E mais boba ainda quando suas mãos se encontraram na entrega da chave. Um arrepio em um simples toque. Ele agradeceu, virando-se novamente para o cavalo.

— É melhor que entre.

Demi sentiu medo de nunca mais vê-lo e se assustou com isso. Havia gostado tanto de ajudar os escravos, a deter os negócios ilegais, fazer algo de útil e não queria que isso acabasse. Sem jeito, pôs uma mecha do cabelo para trás da orelha, pensando em um assunto.

— Tens planos para a propiedade do Lockwood? — perguntou, ainda fitando as costas do homem coberta pela capa preta. Havia prometido a Selena que a ajudaria e se tivesse a ajuda do Cavaleiro, tudo estaria resolvido. 

— Não somos parceiros.

A resposta foi grosseira e Demi apenas engoliu. Era somente a verdade. Foi tola ao achar que poderiam ser uma dupla. Aliás, ela não era confiável. Uma nobre que se dispõe a ajudá-lo do nada era realmente estranho. 

Mesmo que pouco, sempre lutou pelos seus ideais sozinha e continuaria. Sem mais, retirou-se do local, caminhando até o casarão. Recusou-se a olhar para trás, mas ele o fez por segundos míseros.

Acordou ainda com sono em sua cama com a gritaria de sua família. Assim que assimilou o que estava acontecendo, deu um sorriso mínimo. 

— Demi! — Lisie escancarou a porta desesperada. — Fomos atacados pelo Cavaleiro Negro! Estamos falidos! Corra para ver o caos que dominou a fazenda!

A mulher levantou-se e andou até a janela. Para sua surpresa, encontrou uma rosa no parapeito. Sorriu. Havia sido ele, com certeza. Demi sentiu algo desconhecido, porém bom a dominar da cabeça aos pés ao lembrar dele.

E essa foi a cena final da noite: a fazenda de seu pai com homens para todo lado contendo alguns focos de incêndio, alguns animais fugindo e ela sentindo o aroma da rosa, tranquilamente.

                                                           ♧♡♧♢.                                                  

Olá, meninas! Cá estou de novo e com mais um capítulo. Espero que estejam gostando e sacando esse "triângulo" amoroso. E espero que você tenha sacado também o triângulo entre aspas, hah. 

Eu fiz um post chamado "Nova fic" para vocês lerem a sinopse das duas fics, pois se quisessem, eu poderia postar SIMCG junto com KOD. Mas creio que ninguém quis, pois não falaram nada. Só estou comentando isso porque a Thais disse nos comentários que ficou na expectativa com a outra fic. Então, Thais, se quiser, diga, hah. Só não sei se vou alcançar as suas expectativas.

Então é isso! Obrigada pelos comentários! Mesmo! É muito importante! 

Beijos! 

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