Capítulo 11


Joseph suspirou nervoso. Já estava em pé no altar fazia um bom tempo. Nick tentava acalmar o amigo, mas Joseph só ficaria tranquilo quando a visse ao seu lado. Na sua cabeça, todas as possibilidades eram possíveis.
Os convidados já começavam a comentar a demora excessiva, e Joseph encarou os vitrais, dando as costas para as pessoas.
Não estava se importando com o que iam pensar ou falar dele. Estava arrasado por ter perdido a mulher que amava.
O homem levantou a cabeça, novamente, quando ouviu as notas de piano junto as do violino. Seu coração parecia ter parado quando pôs seus olhos sobre Demetria.
  — Estou delirando? — ele murmurou para Nick que estava próximo. O amigo sorriu, feliz pelo amigo.
  — Então estamos tendo o mesmo delírio.
Demi adentrava na igreja de braços dados com seu pai. Estava nervosa, muito nervosa.
Seu pior pesadelo estava se tornando realidade. Tinha pavor de se casar obrigada e o dia havia chegado. Mal podia acreditar.
  — Não quero que fiques com zangada comigo  — seu pai murmurou já no meio da igreja. — Estou fazendo pelo seu bem.
  — Tarde demais — respondeu magoada.
Seu olhar se encontrou com o de Joseph no altar e ela não tinha noção da felicidade que o consumiu ao vê-la.  Seu olhar era de pura devoção e qualquer um naquela igreja poderia notar. Ele a viu mexer os lábios e queria poder tomar da sua doce voz. "Fala de novo, anjo luminoso" Era tudo o que queria, assim como Romeu pedira apaixonado a Julieta.
Quase não conseguiu prestar atenção no padre, enquanto a mulher estava ao seu lado. Um imã, um feitiço, um encanto. Ele não sabia ao certo o que o prendia de modo doentio nela.
O padre deu início à cerimônia. Esta que o pessimismo de Demetria insistia em chamar de decreto de morte.

Demetria pensou que o pior havia passado quando a cerimônia terminou, mas aquela festa conseguia superar. A vertigem e o enjoo que sentiu na hora do "sim" não era nada comparado ao nojo e desprezo que sentia de todos os convidados. Selena, Rose e Ariela eram as únicas que Demi salvava.
  —  Zira me mandou dizer sobre... bem, tu sabes — Selena comentou desconfortável, quando conseguiu um momento a sós com a amiga. — Ela disse que tu tens de ficar tranquila e relaxar para que não te machuque. Relutar será pior.
  — O que?! Ela acha que irei me deitar com ele?
Demi riu horrorizada por amigas terem pensado que faria isso. Jamais deixaria Joseph encostar nela.
  — Demi, é isso que acontece após o casamento! Uma vida diferente das demais esposas de Aruaz não significa que ele não vá querer a possuir na noite de núpcias.
  —  E tu achas que acredito no que ele diz? — perguntou brava, e Selena olhou em volta, receosa. — Só entrei naquela igreja porque se não fosse com Joseph, seria com outro fazendeiro. O senhor Lovato estava determinado a acabar com a minha vida.
  — Eu sei, eu sei...  — a amiga afirmou nervosa. Estava com medo do que poderia acontecer com Demetria. Ouviram o pai de Selena chamá-la.  — Por favor, não faça nenhuma besteira. Visite-nos o quanto antes!
Demi assentiu e a amiga se afastou, após um abraço. Observou sua taça de vinho ainda cheia e se escondeu em um corredor vazio que dava para a cozinha. Cansada, suspirou, escorando-se na parede. Mas seu momento de privacidade não durou muito quando ouviu a voz de Victor.
  —  Olha... Será uma visão? Um delírio? Demetria vestida de noiva? Demetria usando uma aliança?  — ele riu debochando, enquanto se aproximava dela. — Esperava mais de você. Cadê sua coragem e determinação para se livrar dessa?
  — Era para eu ter enfiado aquela faca no seu coração...
  —  Bem lembrado, ainda não me esqueci desse acontecimento — ele respondeu, aproximando-se dela. Demi se pôs ereta, encarando o homem. — Tu pareces tão indefesa agora que seria fácil me vingar.
  — Saia de perto de mim! — ela o empurrou pelo peito, mas Victor a empurrou de volta na parede, fazendo sua cabeça bater. Demi o olhou e temeu pelo que viria. — Que tal deixar aquele babaca do Jonas viúvo no dia do seu casamento?
  — O que está acontecendo aqui?—  Joseph perguntou, assim que pôs os olhos nos dois. Demi relaxou, feliz por ele ter chegado no momento certo, mas não deixou transparecer. Joseph se aproximou e o loiro se afastou, rindo. Conferiu a mulher dos pés a cabeça. — Estás bem?
  — Olha só, a inofensiva Demetria arranjou um herói. Francamente, Lovato, tu eras bem menos patética quando não tinha um dono.
  — Cale a boca.
  —  Isso, mostre as garras para sua mulherzinha ver, Jonas — provocou Joseph e riu mais uma vez.  — Vocês são o casal mais patético de Aruaz. Sinto náuseas ao olhar.
  —  Tão imaturo, infeliz e repugnante... Tu me cansas.
  —  O teu marido já conhece teu lado rebelde, Demetria?  — ele perguntou, achando que estaria ameaçando a mulher, que apenas o olhou entediada. — O sonho dela é morar em um bordel e ser como Zira, arregaçada por todos os homens de Aruaz. Se já não foi, essa meretriz.
  —  Já mandei calar a boca — Joseph o empurrou pelo peito, aborrecido. Demi riu, nem um pouco ofendida e deixou o loiro irritado. — Saia daqui antes que eu te arraste pelo salão.
  — Tu não farias isso, afinal, mancharia sua imagem de bom moço.
  — É verdade... Não vale a pena brigar com um adolescente que todos os fazendeiros relevam as travessuras porque é imaturo e quer chamar atenção. Tu vens, Demetria? — Joseph perguntou e a mulher o acompanhou, ainda rindo do loiro. Este que se enfureceu, pensando em uma forma de atacar.
  — Ria enquanto pode,  meretriz. E tu, Jonas, aproveites para arregaçar bastante essa vaca, porque o destino dela é o mesmo da sua mãe.
Joseph sentiu seu sangue ferver e quando percebeu, já estava pegando o loiro pela camisa, enfurecido. Bateu a cabeça dele na parede.
  — Não ouse falar novamente da minha família, da minha esposa e e vá embora daqui agora!
  — Assunto proibido? — perguntou ofegante, mas debochado, quando Joseph o largou.  — A história vai se repetir nessa merda de família. E eu serei o Alonso dessa vez, com prazer.
  — Maldito! — Joseph xingou e se descontrolou, acertando um soco em Victor. O loiro cambaleou e recebeu outro e mais outro do homem enfurecido, até estar no chão. Demetria arregalou um pouco os olhos ao perceber que mais um pouco e o marido poderia matá-lo.
  — Joseph! — ela gritou, fazendo o homem parar, no instante que acertaria mais um soco, ao ouvir a voz da esposa. Ele a encarou, acalmando-se.
  —  Perdoe-me por isso, eu... me descontrolei — o marido pediu envergonhado e focou em Victor desarcodado no chão. Deu tapas na face do loiro e se desperou ao não sentir a pulsação dele. — Maldição, maldição. Acorde, seu bastardo.
Demi gelou ao ouvir vozes e constatar que pessoas se aproximavam. Correu até Joseph, puxando o homem que estava mais preocupado em despertar Victor.
  — Venha! Agora! — ela o puxou pelo braço desesperada e Joseph obedeceu. Entraram na primeira porta que viram: um minúsculo depósito de comida.
  — Oh, Santo Deus! — ouviram a voz da Madame Carlota e logo após,  três fazendeiros. — Ele está morto?!
  — Não, mas precisa de um médico — o senhor Félix respondeu e Joseph suspirou aliviado. Sua cabeça encostou numa tampa de panela, derrubando-a. Eles esbugalharam os olhos.
  — Ouviram isso?! Veio detrás daquela porta. Pode ser o agressor! — Carlota comentou, fazendo o casal trocar um olhar atônito quando perceberam as mãos sujas de sangue de Joseph. Demetria tentou pensar em algo rápido enquanto os passos se aproximavam.
Não havia tido uma ideia agradável, mas era a única no momento.
  —  Rápido — murmurou, levantando a longa saia do vestido. Joseph logo acompanhou o raciocínio e pôs a mãos nas coxas dela, levantando a morena e encaixando no seu quadril. A saia do vestido tampou todo o antebraço do homem. Ao ouvir a maçaneta mexer, ela o beijou. Mesmo desesperado, Joseph correspondeu o beijo sem fingimento. O efeito de Demetria sobre ele era instantâneo. Estava calmo novamente.
  — Oh! Perdão! — o homem disse desconcertado ao ver o casal aos beijos. Demetria encarou o homem fingindo-se de surpresa e envergonhada. Ela havia ajudado Jonas como ele fizera agora há pouco e isso havia a deixado feliz, se sentia sem dívidas. Joseph 1 x 1 Demetria.








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