SMCG - 13

Demi não falava comigo há uma semana. Desde que saiu sorrateiramente da minha casa bem cedo. Não sentou conosco no intervalo, alegando que precisava resolver questões do trabalho de química com seu grupo a semana inteira.
Eu queria acreditar que não tinha nada a ver comigo, mas era óbvio que sim. Sempre que rolava algo, ela ficava estranha. Foi assim na festa de Selena, na festa em que fomos de penetras e depois que transamos. Eu não entendia esse tipo de reação, não mesmo.
  — Ei, Joe, você vai hoje? — Nick perguntou, enquanto saíamos do colégio. Era uma festa na casa de Rebeca, mas eu não estava nem um pouco a fim de ir.
  — Acho que não.
O resto do meu dia foi super broxante. Fiquei jogando videogame, lendo, mexendo na internet, e até do meu pornô eu abri mão hoje. Eu estava desanimado e queria acreditar que não tinha nada a ver com aquela cretina.
Olhei pra minha cama e lembrei de quando peguei a maldita de jeito. Tratei de esquecer e fui dormir, pois era melhor coisa que eu podia fazer.

Acordei com meu celular tocando e meus olhos arderam só de olhar a tela. 01h25min. Estavam me ligando. Mas que merda?! Ainda era a cobrar. Desliguei.
A pessoa insistiu e eu atendi, aborrecido. Se fossem aquelas vadias dos meus amigos bêbadas...
  — Alô?! — disse de mau humor, e a pessoa do outro lado ficou em silêncio, desligando na minha cara. — Desgraçado!
Tornaram a ligar e eu atendi novamente, furioso.
  — Fala, porra!
  — Joseph? — levei um susto ao ouvir a voz. Era ela, claro que era. Tão doce como eu nunca ouvira. — É a Demetria.
  — Demi?
  — É, oi. Foi mal ligar essa hora... Você está ocupado?
  — Não - respondi, curioso. Demetria me ligando calmamente de madrugada?! — Por quê?
  — Eu tentei falar com as meninas, mas elas não atendem... — disse e eu esperei que continuasse. — Eu estou usando um telefone público aqui de Dirven porque fui assaltada e levaram meus pertences.
  — E você está bem? — perguntei preocupado. Demetria não pedia ajuda, ainda mais para mim. E o que ela estava fazendo em outra bairro naquele horário?!
  — Sim. Eu só estou te ligando porque ninguém atende e a delegacia fica longe, mas se você puder pedir uma viatura, eu--
  — Aonde você está, exatamente? — interrompi sua explicação, enquanto vestia minha calça jeans. Minha mãe me viu saindo e expliquei rapidamente a situação.
Olhei a rua mal iluminada e aumentei o farol, procurando por Demetria. Meu Deus, ela era louca de estar ali uma hora dessas?! Que pergunta, Joseph. Louca ela é.
Finalmente a enxerguei, sentada em frente a uma casa e parei com o carro, abrindo a porta do carona. Ela deu um pulo ao me ver. Acho que nunca havia ficado tão aliviada e feliz ao ver o otário aqui.
  — Oi! — ela disse assim que entrou no carro e a analisei. — Eu não sabia que você viria...
  —  O monstro da história aqui é você. Eu não conseguiria voltar a dormir depois da sua ligação.
  — Pensei que estivesse na festa da Rebeca — ela comentou e percebi sua inquietação, parecia querer dizer algo. — Desculpa por incomodar.
Sério que ela tinha toda essa dificuldade em pedir desculpa e ajuda? Bizarro. Não respondi, dirigindo para sua casa.
  — O que você estava fazendo naquela rua deserta?
  —  Fui passear por Dirven e acabei me perdendo — respondeu e eu não acreditei, óbvio. Até ela sabia que não tinha me convencido, mas ficou por isso mesmo.
Não demorou para chegarmos na sua casa e a morena saiu do carro rapidamente.
  — Obrigada, Joseph — disse, antes de ir em direção à casa amarela que estava bastante escura. Eu acenei do carro, esperando ela entrar. Depois de tocar a campainha duas vezes, a porta se abriu e Demi sumiu.
Naquela noite eu fiquei bem intrigado. Além de louca, ela era estranha. E ainda contou uma história estranha. Mais estranha ainda era aquela casa. Dormi.

  — Senhor Jonas! — levantei a cabeça rapidamente, ouvindo a voz estridente da professora de matemática.
  — Presente! — respondi desnorteado, ouvindo risadas dos meus colegas de classe.
  — Presente, certo. Então nos explique o exercício que eu acabei de fazer, por favor.
Estendeu o pilot para mim e eu neguei.
  — Professora, estar presente é diferente de estar atento, consegue entender?
  — Está me chamando de ignorante, Jonas?
  — Jamais, professora — neguei debochado. — Mas você é de exatas, nunca se sabe...
Rimos e acabei rindo sozinho na diretoria. Mas continuei rindo ao lembrar da sua cara. Cara, ela vai me reprovar!
  — E aí, Joe? — Miley me cumprimentou, sentando ao meu lado. — Esses professores estão muito irritados hoje...
  v A de matemática sempre. Pensei que jamais te encontraria no banquinho da rebeldia, que decepção! Isso é culpa do Liam, aposto.
  — Coitado — ela riu, bufando em seguida. — O professor de biologia me viu mexendo no celular e me expulsou. Severo, não?
Assenti, ouvindo a ruiva reclamar sobre ele. Mas parei de prestar atenção, quando uma ideia surgiu ao ouvi-la falar de Demi.
  — Os pais devem ser bem rigorosos quando vocês vão para a casa dela, não?
  — Da Demi? — perguntou e eu assenti. — Nós não nos conhecemos, marcamos mais na casa de Selena e na minha.
 Como não conheciam os pais da melhor amiga?! Como os pais de Demi não queriam conhecer quem anda com a preciosa deles?
Soltei um "Ah..." e o diretor a chamou, antes que eu pudesse perguntar mais alguma coisa.

  — O que vocês vão fazer nas férias? — Selena perguntou, enquanto comia seu lanche. Milagrosamente, Demetria resolveu voltar a sentar conosco depois da semana de reclusão. Selena ouviu vários "nada", tornando a falar. — A gente podia juntar dinheiro para passar uma semana em um lugar legal...
  — Gostei da ideia.
  — Eu também — Nick concordou com Rick. — Mas só uma semana?
  — Duas, se conseguirmos um preço legal.
  — Sem chance, Miley — eu disse, atraindo a atenção toda pra mim.
  — Por que? — Demi perguntou, me encarando. Milagrosamente também havia aberto a boca, pois nunca esteve tão quieta.
  — Eu só vou ter uma semana de férias por causa da recuperação.
  —  Tinha me esquecido desse fato... — Liam lamentou, bufando. Rick não estava preocupado porque era expert em colar. Colou tanto e tão bem nas provas passadas que já estava livre da recuperação.
  — Mas não fizemos as provas ainda.
  — Exato. Miley ajudará Liam e eu te ajudarei — ela disse autoritária e eu ri, debochando. Era bom ela saber fazer milagres.
  — Não duvide, Joe. Como você acha que Juan passava de ano? Aulinha com a Demi.
  — E era burro como uma porta — Demi confessou rindo. Dane-se, não queria saber daquele babaca.

Estava pronto para tirar minha soneca da tarde quando Demi entrou no meu quarto com uma pilha de livros. Derrubou na cama, dando um chute na porta.
  — Minha mãe já te deu passe livre aqui dentro? Fala sério!
  — Você esqueceu que combinamos de estudar? — perguntou, enquanto organizava os livros em cima da escrivaninha. Fez uma careta olhando o lugar. — Não tem um outro lugar onde possamos ficar? Não estou confortável aqui.
  — Por que? Medo de não resistir a minha cama de novo?
Provoquei ainda deitado e a vi revirar os olhos. Me olhou sério e eu resolvi acatar seu pedido. Levantei e a ajudei a pegar o material, indo para a varanda.
  — Bem melhor — comentou, sentando-se. — Resolvi começar por exatas porque em humanas e biológicas você está melhor. Física ou matemática?
  — A morte.
  — Baby, pense em uma semana a mais de férias, uma semana sem ver a face da professora de matemática...
  — Ok, física.
 Demi me explicou, fez exercícios comigo e eu entendi. Mudamos para matemática e ela nunca foi tão paciente na vida dela, eu tenho certeza. Fizemos exercícios novamente e eu entendi, finalmente, uma matéria que estava vendo há dois meses.
É, acho que essas aulas podem ser boas.

Tudo ocorreu normal na semana. Tive aulas com Demi todos os dias e combinamos de também revisar no sábado. Mas ela ligou para desmarcar, pois disse que estava doente.
Minha mãe me convenceu a ir até a casa dela ver como estava e agradecer pelas aulas. Até comprou uma caixa de trufas. E eu fui porque Demi havia sido legal mesmo.
Graças a ela eu tinha condições de fazer uma boa prova na segunda.
Apertei a campainha da casa amarela três vezes e ninguém atendia. Tentei a última vez e a porta foi aberta por um homem de cabelos grisalhos e terno cinza bem elegante. Parecia ser o pai de Demi pelos traços em comum.
  — Em que posso ajudar?
  — Sou Joseph, estudo com sua filha — respondi, estendendo minha mão e ele lançou um olhar, ignorando completamente. Recolhi minha mão, constrangido. — A Demi está?
  —  Não, ela não está.
Como podia não estar em casa se estava doente? Não contestei, apenas agradeci e ele bateu a porta na minha cara. Agora eu sei com quem Demi aprendeu ser mal educada.
Dei meia volta, refazendo meu caminho. Tinha vindo a pé e resolvi passar numa confeitaria legal que tinha no caminho.
Para minha surpresa, encontrei quem eu menos esperava. Demi estava sentada em uma mesa sozinha e enrolando para tomar seu milkshake. Me aproximei e ela estava tão alheia que nem percebeu.
  — Doente, certo? — debochei, sentando à sua frente. Ela levou um susto, me encarando. Abriu um sorriso mínimo e sem graça.
  — Desculpa por ter adiado nossa revisão, sei que me comprometi e fui irresponsável. Mas hoje não estava conseguindo raciocinar, pensar, não dava para revisar.
  — Por que? — perguntei, e ela não respondeu, levando a bebida à boca. Acho que era a primeira vez em todos esses anos que Demetria aparentava estar mal. Vê-la assim demonstrando sentimentos mexia comigo. E tristeza me incomodava. Como sou otário! — O que você vai fazer agora?
  — Terminar meu milkshake.
  —  Vem — levantei e a puxei do banco. Ela protestou com um "Ei!", mas eu não a soltei. Só quando estávamos fora do estabelecimento. — Agora você pode terminar e me fazer companhia.
  —  E desde quando você gosta da minha companhia?
Nossa, ela devia estar mal mesmo para me fazer uma pergunta dessas! O normal seria "Você adora minha companhia desde a primeira série, blá blá blá".
  — Dá pra suportar.
  — Você não me respondeu.
  — Não faça eu me arrepender disso — disse e ela deu uma risadinha, me puxando para outra direção. Até que para alguém triste eles estava animada agora. Vai entender.
Eu estava pensando em algo legal para fazer, mas só conseguia pensar no shopping. Deixei que Demi nos guiasse, então. Tudo bem que da última vez que eu permiti fomos parar em uma festa desconhecida, mas nada de ruim aconteceu. E eu torcia para que hoje o mesmo acontecesse.
  — Aonde estamos indo? — perguntei e ela não respondeu, virando a esquina e indo em direção ao mar. — Ah, não, para. De novo isso d--
  — Fique quieto, por favor? — me interrompeu, apressando o passo e parando na ponte. Ela falou com um senhor que estava desamarrando o barco e me puxou para dentro do mesmo.
  —  Mais alguns marujos! — gritou, fazendo o grupo de idosos nos cumprimentarem. Meu Deus, eu já previa um milhão de perguntas chatas! Sentamos lado a lado enquanto o Capitão começava a navegar.
  — Você trouxe dinheiro?
  — Não, por quê? — perguntei e ela só sorriu, dando de ombros. —  Porra, Demi! E como vamos pagar esse passeio?
  — Depois a gente pensa nisso. Vai valer a pena, você vai ver.
Com certeza teria que valer. Uma senhora me chamou e eu já estava ferrado.

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Oi, lindas! Perdão pela demora. Sério! Tá muito difícil conciliar os estudos com as fics. Mas não quero excluir, não mesmo. Espero que tenham paciência, pois adoro escrever pra vocês! Um beijão! Espero mandar um capítulo logo em breve. Tenho que ter inspiração e tempo pra escrever. Beijos!